B. Monopólio e Impureza
Quando os homens, seja como cidadãos ou como
funcionários do governo, adulteram o teor de ouro e prata nas moedas, o desastre
segue como resultado. Quando os corações dos homens são corrompidos, eles
arriscam-se na produção de moeda adulterada e de bens de consumo corrompidos
(Isaías 1:22).[1]
Reis tem praticado tal engodo monetário desde que eles existem. Eles derramam
metais mais baratos junto à prata ou ao ouro usado para convertê-los em lingotes
ou moedas. Eles substituem as notas de papel ou cheques ou dígitos de
computador por os metais preciosos e, em seguida, eles multiplicam as notas,
cheques, ou dígitos de computador. Multiplica-se o dinheiro, sobem os preços e aumenta
a redistribuição de riqueza através do engano. O governo civil incentiva a fraude,
seja diretamente (degradação de valor, impressão dinheiro) ou indiretamente
(banco central e bancos comerciais). Quando as autoridades do governo civil
estampam um selo numa moeda ou numa nota atestando que uma quantidade e pureza
específicas de um metal precioso estão contidas em uma moeda (ou que uma
determinada quantidade deste metal está na reserva para a troca imediata pela
nota de papel) e, posteriormente, falsificam o processo de cunhagem ou imprimem
mais notas do que há de metal na reserva, eles, assim, agem de forma fraudulenta.
Primeiro, criam um monopólio da emissão de dinheiro, e então abusam deste
monopólio governamental. Eles põe o dinheiro fiduciário em circulação pela
compra de recursos econômicos escassos do mercado. O estado, portanto, aumenta
o seu consumo através da cobrança do "imposto invisível" da inflação
monetária.
O monopólio do dinheiro irroga perigos a todos, mas os
cidadãos mais alertas e os beneficiários do estado se favorecem. As autoridades
não podem resistir muito tempo à tentação de cobrança do imposto invisível da
inflação de preços. É verdade que Bizâncio foi abençoada com uma cunhagem de
ouro estável por mais de 700 anos, mas esse caso foi único na história do
homem.[2]
Por esse motivo, a inflação da oferta de moeda tem
sido uma característica da história humana desde o início dos registros
históricos. Governos trapaceiam. Governos civis honestos não são os criadores
de dinheiro; eles são, no máximo, certificadores de dinheiro. É por isso que a
Bíblia repetidamente adverte sobre o pecado de pesos e medidas fraudulentos.[3] Isso está ligado à justiça
(Lv 19: 33-37;[4]
Dt 25:13-16[5].).
Quando Jeremias comprou o campo do seu parente, ele "subscreveu a
evidência, e fechou-a e levou testemunhas, e pesou ele o dinheiro numa
balança" (Jer. 32:10). O dinheiro, neste caso, era 17 siclos de prata (Jr
32:9). O aviltamento da moeda não é nada menos do que adulterar os pesos e
medidas, seja por cunhadores privados, falsificadores, ou funcionários do
Estado.
A abolição do padrão-ouro no século XX, durante e
depois da Primeira Guerra, levou diretamente a uma inflação universal,
revolução e ciclos comerciais de expansão e recessão nesse mesmo período
histórico. Não há escapatória da lei moral de Deus, mesmo que economistas
profissionais não reconheçam a existência de tal ordem moral. Os padrão ouro e
prata para moedas, ou padrões múltiplos de moedas livremente intercambiáveis, é
o resultado direto da aplicação da lei bíblica.
A abolição de pesos e medidas honestos através da
criação do sistema bancário de reservas fracionárias, impressão de moeda,
aviltamento de moeda, ou raspagem de moeda, deve inevitavelmente resultar em
repercussões econômicas e sociais desagradáveis. Quando alguém emite um recibo
por metal de uma certa pureza e peso, ele deve ter exatamente aquilo na
reserva. Emitir mais recibos de reserva (notas bancárias) do que a quantidade
de metal realmente existente é nada menos do que adulterar as medidas, pois os
resultados são idênticos ao aviltamento de moeda. É o mesmo pecado; e deve
resultar no mesmo julgamento. Vivemos num universo que é pessoal e governado
por uma lei moral. Crises econômicas são os dispositivos imbutidos
autorreguladores – imbutidos no homem e na criação – que refream os homens em sua busca por fazer o
mal. Pesos desonestos, dinheiro desonesto, autoridades desonestas e culturas
desonestas andam de mãos dadas.
Conclusão
Embora o Império Romano seja, hoje, nada mais do que
pó, suas moedas de ouro e de prata ainda podem ser trocadas por bens econômicos
escassos. Os Césares estão em suas tumbas já há milênios, sua autoridade está
há muito destruída, mas as moedas que carregam suas faces podem ainda comprar
bens e serviços. Os homens ainda imputam valor a metais preciosos muito tempo
depois de eles cessarem de imputar valor a um dado regime político. Moedas de metais
preciosos duram mais que governos civis. O ouro pode ser dinheiro. A prata pode
ser dinheiro. Assim tem sido desde o começo da história escrita, e assim será
até o fim.
O ouro de Havilá era bom. Era
ouro de alta qualidade. Era ouro desejável. Porém, mais do que isso, ele não
era tão facilmente falsificável, especialmente por governos civis iníquos.[6] Isso é mais do que podemos
dizer sobre notas bancárias, cartões de créditos e dinheiro fiduciário não
lastreado.
Sobre o autor: Gary North, ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. North é um teórico reconstrucionista Cristão americano e historiador econômico. Já escreveu e foi co-autor de mais de 50 livros com tópicos variando entre teologia Cristã, economia e história. Visite seu website.
Sobre o texto: O texto é parte do capítulo 7 do livro Sovereignty and Dominion - An Economic Commentary on Genesis Vol. I. Baixe gratuitamente o livro aqui.
Traduzido e revisado por Matheus Henrique.
Parte I
[1] Gary
North, Restoration and Dominion: An
Economic Commentary on the Prophets (Dallas, Georgia: Point Five Press,
2012), cap. 3.
[2] “Byzantine
Coinage,” Wikipedia.
[3] R.
J. Rushdoony, Institutes of Biblical Law
(Nutley, New Jersey: Craig Press, 1973), pp. 468–72.
[4] Gary
North, Boundaries and Dominion: An
Economic Commentary on Leviticus, 2a ed. (Dallas, Georgia: Point Five
Press, [1994] 2012), cap. 19.
[5] Gary
North, Inheritance and Dominion: An
Economic Commentary on Deuteronomy, 2nd ed. (Dallas, Georgia: Point Five
Press, [1999] 2012), cap. 65.
[6] Gary
North, Honest Money: The Biblical
Blueprint for Money and Banking (Ft. Worth, Texas: Dominion Press, 1986). (http://bit.ly/gnmoney)
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